A relação do coração e das emoções segundo a Medicina Chinesa e os atuais estudos de neuropsiquiatria

ALBERTO BASTOS

A medicina chinesa define bem a relação do coração e das emoções. Precisamos entender o cérebro e o coração como uma coisa única, sendo o cérebro yang e o coração yin. Para isso, precisamos entender também os três aquecedores como uma nuvem que circunda todo o corpo registrando todas as sensações corporais que serão sentidas no coração de forma yin e que, através de ressonância o cérebro traduz e exterioriza essas sensações de forma yang.

Entendo que o aquecedor inferior funciona separando o puro do impuro. O impuro é excretado e o puro será transformado em jing essência. No aquecedor médio teremos a formação do que poderíamos comparar ao preparo de uma “sopa”, dou este exemplo por que é ali que tudo é liquidificado, macerado, quebrado e isto é fundamental para absorção de nutrientes, vitaminas, minerais e principalmente da formação de jing essência e a eliminação do que não interessa, o impuro.
Agora vamos ao aquecedor superior. É nele que ocorre o registro das emoções, parte dessas emoções serão encaminhadas pelo cérebro para as células e outra parte exteriorizadas pelo aspecto yang do cérebro em expressões, palavras, sentimentos e conduta. “Como dizia Fernando Pessoa: Tudo que agora sinto está em mim pensando.”

Curiosamente a neuropsiquiatria moderna encontrou algumas correspondências que se enquadram na fisiologia da Medicina Chinesa.

“Recentemente se descobriu que o coração têm sua própria rede com dezenas de milhares de neurônios que agem como “minicérebros” (chamados “nuclei”), os “minicérebros” “nuclei” têm percepções particulares. Embora sua capacidade de processamento seja limitada, esses grupos de neurônios são capazes de adaptar seu comportamento às suas percepções e até de mudar suas respostas como resultado de sua experiência – ou seja, em certo sentido, de criar as próprias memórias.

Além de possuir uma rede própria de neurônios semi-autônomos, o coração é também uma pequena fábrica de hormônios. Ele produz seu estoque de adrenalina, que é libera quando precisa funcionar com capacidade máxima. O coração produz e controla a liberação de outro hormônio, o FNA (fator natriurético atrial), que regula a pressão sanguínea. Ele produz também sua reserva de oxitocina, geralmente chamada de “o peptídeo do amor”. (É o hormônio liberado no sangue quando uma mãe amamenta seu filho, durante o namoro e durante o orgasmo.) Todos esses hormônios agem diretamente sobre o cérebro.

Por fim o coração pode afetar todo o organismo por meio de variações de seu campo eletromagnético, o que pode ser detectado a vários metros de distância do corpo, mas cujo significado, a medicina ocidental ainda é incapaz de compreender”, pois esta relação se dá por fenômeno de circulação do Qi. Então se nos abrirmos para os conceitos da fisiologia energética podemos entender que os chineses já conheciam esta relação com muita propriedade a mais de 5000 anos.

O coração percebe e sente, ele estabelece seu próprio curso de ação e quando se expressa, influencia a fisiologia de todo o nosso corpo incluindo o cérebro, sua parte yang.

“O relacionamento entre o cérebro emocional e o “pequeno cérebro” no coração é uma das chaves para o domínio emocional. Ao aprender, literalmente a controlar o nosso coração, aprendemos a dominar nosso cérebro emocional, e vice-versa. Isso se dá porque a mais forte das relações entre o coração e o cérebro emocional é uma rede de comunicação difusa, de mão dupla, conhecida como “sistema nervoso periférico autônomo”- é a parte do sistema nervoso que, estando além do nosso controle consciente, regula o funcionamento dos órgãos.”

Dessa forma posso afirmar que a acupuntura, a dietética, a fitoterapia, a meditação e os exercícios chineses podem ser de grande contribuição em várias circunstâncias terapêuticas, das angústias às disfunções que levam a obesidade, a algumas alterações metabólicas primárias e de muitas outras patologias. Como costumo dizer, funcionamos como um instrumento musical que as vezes desafina prejudicando toda a música, quero dizer nossas relações com o que está a nossa volta.

Bibliografia:
O texto surgiu de um bate papo com o filósofo Juracy Cançado e da leitura do livro
Guérir – Le stress l’anxiété et la dépression sans medicaments ni pyschanalyse. Edition Robert Laffont S.A., Paris,2003
Dr.David Servan-Schereiber

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